O Servidor

William Douglas

O dia 28 de outubro foi escolhido para a comemoração do Dia do Servidor Público. Intencionalmente, escrevi este texto após sua passagem, para fugir do mau costume de só nos lembrarmos das coisas em suas "datas". Aniversário, por exemplo, a gente faz todo dia: se estamos vivos, e de preferência bem, é aniversário. Igualmente, não há como se entender que o Natal seja em um dia único, apenas uma virada de noite, um feriado. Essas datas servem como registro comemorativo, mas seu sentido tem de se estender por todo o ano. E não pode ser diferente com o dia do servidor público.

A data me fez recordar uma experiência que tive quando Delegado de Polícia na cidade do Rio de Janeiro, em 1990, isso mesmo, há mais de 18 anos! Atuava na 17ª D.P., em São Cristóvão, uma das áreas mais turbulentas da cidade. Certo dia, durante o plantão, fui atender a um acidente de ônibus. Quando cheguei ao local já estavam lá os Bombeiros, retirando as vítimas de dentro do veículo.

Um Oficial, identificado pelo capacete branco, estava se esforçando ao máximo para ajudar, e o ouvi dizer, ao retirar ele mesmo uma criança toda ensangüentada e em prantos: "Tá vendo Doutor, a gente ganha mal e ainda tem que ver isso, criança sangrando!". Eu, já chocado com o acidente, como não poderia deixar de ser, também acabei chocado com a frase do Oficial que, apesar do comentário, agia com determinação, segurança e habilidade.

Quis dizer alguma coisa para o homem, mas não logrei sucesso: simplesmente não consegui pensar em nada, dizer nada. A cena e a frase ficaram me acompanhando até que finalmente, com atraso de semanas, consegui resolver o episódio em minha mente.

Não deu tempo para falar para ele, mas compartilho com vocês. Eu queria ter tido tirocínio e tino para dizer ao homem do fogo: "Não, camarada, a gente ganha mal, mas pode ajudar crianças como esta, que está realmente precisando".

Infelizmente, não falei isto para o Oficial Bombeiro, infelizmente. Mas fica aqui minha opinião sobre o assunto: independentemente de todas as mazelas do serviço público, que incluem a questão vencimental, a falta de meios adequados de trabalho, a dificuldade da premiação do mérito, a punição do demérito etc., o fato é que estamos nele com uma missão. Todos sabem que o governo, comparado à iniciativa privada, é um bom "patrão", mas muitos servidores vão se esquecendo disso ao longo da carreira.

Esquecemo-nos de que o que temos, e não é pouco, é para servirmos; esquecemo-nos de que nossa relação administrativa com o governo nada tem a ver com nossos deveres com a população; esquecemo-nos de que todo o bem que fizermos, assim como o mal, retornará para nós mesmos multiplicadamente. Esquecemo-nos de que podemos tornar a vida de alguém melhor, ou pior; que podemos ser fonte de alívio e socorro, ou de frustração e infelicidade.

Creio que a expectativa de mudança (para melhor) de nosso país é depositada, em boa parte, nas mãos dos servidores públicos. É por meio de um corpo de servidores competentes, trabalhadores e honestos que se poderá melhorar o funcionamento da máquina pública, reduzir o chamado "custo Brasil", enfrentar o crime organizado, a evasão de dividas, a informalidade, a concorrência desleal, a sonegação de tributos etc. E o resultado disso será um país mais sério, mais justo, mais decente.

Em paralelo a tudo isso, podemos tornar a vida de alguém melhor. Creio no que diz a Bíblia, sobre "aqueles que trabalharem para o bem dos outros encontrarão a felicidade". Além das vantagens do cargo é certo que o trabalho digno, por mais modesto que seja, traz um sentido de existência, de utilidade e de cumprimento do dever sem os quais ninguém pode se sentir bem; e com os quais dorme-se muito melhor à noite, no que alguns chamam de "o sono dos justos".

Acredito numa revolução silenciosa que ocorrerá no país e no serviço público, a partir do metro quadrado de quem ousa. Quem quiser ler mais sobre isso, sugiro www.revolucao.info.

Recebam todos os bons servidores minhas congratulações não só por seu dia, mas em especial por sua missão, grave e nobre. E aos que serão servidores, vai o convite para que, ao terem sucesso nas provas e concursos, venham se juntar a uma nova forma de ser servidor. Sempre tivemos grandes servidores públicos e sempre os teremos. Nosso desafio agora é que os bons servidores sejam a imensa maioria. Aqui vai o convite para você fazer parte não só do serviço público, mas do bom serviço público que tanto faz falta a esse país.

Com abraço fraterno,

William Douglas, servidor público

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