Otimização do Estudo

William Douglas

1. INTRODUÇÃO

As condições de um mercado de trabalho cada vez mais restrito têm indicado os concursos públicos como uma das melhores opções para a rápida obtenção de estabilidade, status e boa remuneração. O perfil dos acadêmicos das Faculdades de Direito tem se modificado, e a intenção de realizar concursos é a marca predominante no alunado, opção que também é manifestada entre profissionais liberais e empregados do setor privado.

Em conseqüência desse fenômeno, os cursos preparatórios e as listas de inscritos em concursos estão, a cada dia, mais abarrotados. Não obstante, os índices de aprovação continuam em patamares incrivelmente baixos, próximos de 1 a 2%. Mesmo os Exames de Ordem indicam o baixíssimo nível de formação dos bacharéis. Os chefes de Instituições reclamam incessantemente que não conseguem preencher as vagas por falta de candidatos habilitados em suficiente número. Assim, paradoxalmente, aumentam os candidatos e diminui ainda mais o número de aprovados. Por mais que se esforcem, faculdades e cursos preparatórios têm tido pouco êxito. Mas, qual a razão dessa carnificina ou, quando menos, como inverter esse lamentável quadro?

O desempenho dos candidatos nos concursos públicos serve como inquestionável demonstração da baixa qualidade do ensino jurídico. Causas e soluções para tais deficiências vêm sendo tema de debate entre os profissionais da área e professores, desde longa data, indicando a necessidade de alguma mudança radical. Os remédios até agora utilizados não têm se mostrado eficazes contra o mal diagnosticado. As recentes modificações normativas na educação brasileira e no ensino do Direito indicam a tentativa de busca por soluções para estes dilemas, embora as tenhamos por ainda tímidas.

2. RACIOCÍNIO OU REPETIÇÃO

Temos para nós que uma das principais falhas do sistema está na forma de ensino do Direito, voltado quase que exclusivamente para a estéril análise de leis e códigos, sem sequer haver preocupação com a formação da capacidade de raciocínio jurídico e de espírito crítico nos alunos. O acadêmico, ao invés de aprender a interpretar as leis, decora a interpretação da norma vigente. Quando uma lei é revogada, o acadêmico é incapaz de interpretar a norma que a substitui. Isso ainda fica mais patente hoje, pelo país ter o sistema jurídico de maior mutabilidade que se tem notícia. Atualmente, existe o direito consuetudinário, o civil law e o direito brasileiro, onde as Medidas Provisórias são mais rápidas que os costumes, que a lei, a jurisprudência ou qualquer outra coisa que se move.

Por muito tempo e ainda em muitos lugares, todo o sistema de ensino (jurídico e não jurídico) nada mais é do que meter um monte de informações na cabeça de alguém, e exigir que este alguém seja capaz de repetir uma porcentagem disso, na hora da prova. O ensino terminou sendo atividade de informar, e não de formar pessoas. Educar deixou de ser paixão, alegria, força, intensidade, curiosidade e crescimento, para ser uma mera atividade de repetição, estéril e sem graça. Fazem dos alunos roscas, parafusos e roldanas, como peças nas fábricas da era da industrialização. Felizmente, aos poucos, vai se redescobrindo o estudo como algo agradável, criativo, inovador. Apenas assim formam-se pessoas e preparam-nas para a vida real, para o século XXI, para uma vida realmente produtiva.

3. O SUBAPROVEITAMENTO DO CÉREBRO

Mais grave do que a insana opção pelo automatismo intelectual, temos como causa principal do sofrível desempenho dos nossos alunos o fato de não saberem eles aproveitar o seu estupendo potencial intelectual. Nossos alunos, em geral, e com honrosas, mas poucas exceções, não sabem ler com eficiência, não sabem estudar, não possuem suficiente capacidade de expressão escrita e verbal, em suma, subaproveitam sua quase ilimitada capacidade cognitiva. Não estou falando apenas de matérias como Metodologia do Ensino e da Pesquisa, sede onde muito poderia se aprender, mas que permanece desprezada, tanto pelas instituições quanto pelos alunos. É preciso aprender a aprender.

A verdade é que alguns professores e a maioria absoluta dos alunos não dá importância a assuntos basilares, tais como as técnicas de aprendizagem e o funcionamento do cérebro, da memória, da inteligência etc. Em geral, os alunos desprezam pontos da matéria, como a introdução e os princípios e conceitos fundamentais, pois querem "ir direto para o assunto", não querendo "perder tempo" com estas partes, que para eles são de somenos importância. Eles estão viciados em não pensar, a se satisfazerem com um produto final e acabado, sem que possam ou saibam julgá-lo.

Este comportamento repete a prática mais que comezinha de as pessoas não lerem os manuais de instrução dos eletrodomésticos que adquirem. Apesar de, lá uma vez ou outra, alguém fundir um aparelho, via de regra, consegue-se usar um liqüidificador ou videocassete sem a leitura do manual. Nesses casos, o subaproveitamento da máquina, que decorre da falta de conhecimento de seu modus operandi, permanece em limites toleráveis. Todavia, quanto mais complexo o equipamento, maior a necessidade de, mesmo com algum trabalho, estudar-se o manual, ver como a máquina funciona, sua potencialidade, funções etc. Se isto não ocorrer, o subaproveitamento será considerável. Como o cérebro é muito mais sofisticado que o mais avançado dos computadores, é preciso "ler o manual", sob pena de estarmos condenados a subaproveitá-lo. Os índices de aprovação dos bacharéis em concursos públicos mostram que o uso do cérebro e da inteligência sem a "leitura do manual" está sendo insuficiente.

4. QUANTIDADE X QUALIDADE DO ESTUDO

Outro ponto a ser considerado é que, como tudo na vida, importa mais a qualidade do que a quantidade. Há quem estude 12 horas por dia e seu resultado prático seja inferior ao de outro que estuda apenas uma hora por dia. Por quê? Por causa de inúmeros fatores, como a concentração, a metodologia e o ambiente de estudo. Mesmo assim, os estudantes e candidatos se preocupam apenas com "quantas horas" ele ou o colega estudam por dia, e quase não se vê a preocupação com o "como" se estuda.

5. OTIMIZAÇÃO DE ESTUDO

Como um dos caminhos para solucionar o fraco desempenho de nossos alunos, entendemos que deva ser dada atenção ao processo de aprendizagem da aprendizagem, aquilo que chamamos de Otimização de Estudo. Otimização, como já diz Aurélio, "é o processo pelo qual se determina o valor ótimo de uma grandeza, é o ato ou efeito de otimizar ". Assim, é tornar algo ótimo, é buscar o que é excelente, o melhor possível, "o grau, quantidade ou estado que se considera o mais favorável, em relação a um determinado critério". Através da otimização é possível estudar uma mesma quantidade de horas, obtendo-se um considerável ganho em agregação de novos conhecimentos, decorrente do acréscimo de qualidade. Em suma, o aperfeiçoamento da capacidade de aprendizagem resulta em maior produtividade, exatamente o que tem faltado aos nossos alunos e candidatos.

6. ACRÉSCIMOS DE INTELIGÊNCIA E DESEMPENHO

Somos educados a pensar que a inteligência e a beleza são dádivas da vida, às quais já recebemos prontas e acabadas, estando condenados a passar o resto da vida com a quantidade de uma ou de outra que foi por nós recebida. É óbvio que aquele que do destino já recebeu beleza e/ou inteligência prontas é um afortunado, com muito mais facilidade e conforto. Para quem não nasceu genial ou lindo, porém, resta apenas a resignação?

As academias de ginástica, clínicas de beleza e os cirurgiões plásticos já há tempos vêm provando que a beleza pode ser obtida com esforço pessoal e tecnologia. No que tange à inteligência, aos poucos vai se firmando não só o seu melhor conceito, mas também, e felizmente, o fato de que ela pode ser aperfeiçoada. É óbvio que o gênio e o espírito criativo nascem prontos, contudo, eles podem se aperfeiçoar. As pessoas que não tiveram tal sina podem aprender técnicas que otimizem suas capacidades, muitas delas aprendidas da observação dos gênios.

O fato é que é possível aprender a ser mais inteligente, bem como a desenvolver espécies diferentes de inteligência. Os melhores conceitos de inteligência são aqueles que a indicam como a capacidade de adaptar-se a novas situações, e como capacidade de buscar a felicidade. Isto pode ser aprendido. Como já disse Charles Chaplin, precisamos mais de humanidade do que de inteligência. A inteligência necessária para a felicidade está à disposição de todos. Além do mais, não existem pessoas burras, existem pessoas que ainda não tiveram a possibilidade de se educarem e de crescerem intelectualmente. Isto, aliás, é tarefa moral da sociedade, do Estado e dos que já angariaram um certo grau de inteligência.

7. CONCLUSÃO

Entendemos, assim, ser necessário um esforço, no sentido de desenvolver as inteligências, a capacidade de aprendizagem e o inesgotável potencial do cérebro humano. Se isto não for feito, nossos alunos continuarão condenados a níveis insatisfatórios de desempenho. Lidamos, hoje, com grande quantidade de esforço desperdiçado, baixa produtividade no processo de ensino e aprendizagem e frustração inteiramente desnecessárias. Antes de ensinar ao aluno a matéria em si ("o inimigo"), devemos ensiná-lo a conhecer a si próprio e a dominar sua espetacular capacidade de crescimento humano e cognitivo. Isso foi dito já há 2.500 anos, por Sun Tzu, excepcional general chinês, na obra "A Arte da Guerra ":

"Se conhecermos o inimigo e a nós mesmos, não precisamos temer o resultado de uma centena de combates. Se nos conhecemos, mas não ao inimigo, para cada vitória sofreremos uma derrota. Se não nos conhecemos nem ao inimigo, sucumbiremos em todas as batalhas."

Artigos, textos e dicas de William Douglas

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